Sopa de Ambição

Tem gente que gosta de sopa bem salgada. Mesmo sabendo que a comida já vem condimentada, faz questão de sempre pedir aquele sachêzinho de sal extra. Às vezes me admiro com a ambição humana alheia, e quando me pego analisando as minhas ambições, me choco mais ainda.

Tem horas que tudo que você quer é uma sopa rápida. Desde o começo, você está ali em frente ao prato, só esperando ser servido. Vez por outra, bate com a colher dentro do prato para indicar que a comida está demorando. Você se insinua, sorri, lambe os beiços para que despejem logo todo o líquido. A ambição de comer logo algo que todos recomendaram acaba se revelando um fracasso. Simplesmente ela não quer estar no seu prato, sabe-se lá por que.

Em outros momentos, tudo que você precisa em uma sopa é aquele toque de pimenta que eu sempre falo. A pimenta se relaciona diretamente ao que você vive atualmente, então todas as suas relações e suas comidas estão cheias de pimenta naturalmente. Eu costumo sempre pedir um vidrinho a mais de pimenta para ver se não perde o gosto. A pimenta da noite acabou virando as costas e fazendo uma bobagem de uma grandeza incrível. Mas fazer o que? Sabemos os efeitos da pimenta e nem devemos reclamar quando a boca começa a arder.

A realidade é que cada momento, cada companhia e cada prato dependem muito do que você está desejando para si. Nem adianta dizer que você faz uma sopa gostosa para os outros provarem. Não, você faz porque sabe que também vai se servir. O problema é que algumas vezes a gente acaba sendo vítima do destino e nem nos servimos. Ou se nos servimos, nos engasgamos com a primeira colherada.

No radinho da cozinha:
Maroon 5 - Nothing Lasts Forever

Sopa de Insônia

Nem durmo. São quatro e pouco da manhã, cheguei às três de uma formatura, puxei o cigarro e encarei a parede. Sei lá, quando as coisas são para acontecer, realmente acontecem. E a cena foi praticamente de filme. Um em um altar estava Julieta e Romeu outro subindo as escadas. Julieta vira e sorri, enquanto Romeu sorri sem ao menos entender. A sopa deles só começou.

Falei o que eu precisava falar depois de tanto tempo. Na realidade, nem falei tudo, tinha medo de causar alguma reação adversa. Se bem que nem posso me dar ao luxo de me gabar que eu possa ainda mexer com aquela sopa. Se os papéis fossem inversos, talvez nem mexeria. Por isso me contive e algumas vezes baixei os olhos. Tava complicado encarar aquela receita antiga que, de alguma forma, as pendências ainda me deixavam angustiado.

Sinceramente, nem sei ao certo o gosto que eu senti dessa sopa. Ao mesmo tempo que veio o alívio, não conseguia tirar os olhos dos olhos brilhantes que me fizeram apaixonar. É meio louco não saber definir. Acho que é a lógica dos sentimentos mesmo: quanto mais a gente define, menos a gente realmente sente. Era tanta coisa para falar que nem sei se soube selecionar as partes mais importantes. Pelo menos, falei o que eu achei que fosse mais difícil. Creio que tenha sido proveitoso. A cozinha agora está organizada para começar algo novo.

Começos; recomeços. Não sou do tipo que vive do passado se ele realmente não foi bom. Hoje percebi o quanto foi bom. Desejo de ter de novo? Talvez, mas meu moralismo não permite que mexa meus pauszinhos para que isso aconteça. Acho que me sentirei melhor comigo mesmo continuando na minha para não causar nenhuma indigestão alheia com meus pratos. Sinto que hoje eu amadureci de verdade e posso dormir com a sensação de orgulho por resolver as coisas, mesmo talvez aspirando um desejo romântico pessoal que vai ficar onde ele está agora: no fundo da panela.

No radinho da cozinha:
Pink - I'm Not Dead


And though this journey is over I'll go back if you ask me to...